quinta-feira, março 10, 2005

E pra quê trocador?

Mais uma vez reclamando do trânsito carioca. Não, não vou falar das 5 horas que passo num ônibus POR DIA, nem de como isso me atravanca o dia e acaba com a produtividade do meu tempo. Sequer mencionarei o fato de que é triste perder compromissos, mais ou menos sérios, por causa da a imprevisibilidade da transitabilidade das vias asfaltadas nessa cidade, que simplesmente não suportam nenhum tráfego ou evento fora do comum sem entupir-se.

Hoje vou falar da nova mania das companhias de ônibus. Frescões ou micro-ônibus, agora a novidade é dispensar o trocador. Ei, vamos baratear nossos custos! Vamos demitir aqueles indivíduos inúteis que ficam recebendo dinheiro. Para quê eles existem, mesmo?

E o motorista acumula as funções. Sim, o MOTORISTA. Aquele ser que deveria manter seus olhos na estrada agora deve também receber o dinheiro e contar o troco, entre uma marcha e outra, por quê não? Afinal, essa é a conduta mais adequada a alguém que está conduzindo dezenas de pessoas por entre veículos ensandecidos.

Pronto. Você já entendeu o que eu quero dizer. Fim do desabafo.

sexta-feira, março 04, 2005

Discurso engatinhante

Sem dúvidas, o Brasil ainda é um país muito infantil no que tange a discussão de política econômica. Não que isto não faça sentido; é fato que temos uma história razoavelmente curta de estabilização e racionalidade neste quesito. No entanto, me parece haver já um tantinho de leniência de economistas (e formuladores de política em geral) que já atingiram a maturidade para com os que ainda engatinham neste mundo novo da gestão econômica responsável, e falam -- bem intencionados que sejam -- besteiras, bravatas, imprudências e afins, pela mídia e além.

Há imaturidade em diversos aspectos do discurso. Um deles é o que envolve o sistema de metas de inflação, adotado pelo nosso Banco Central já há algum tempo, e levado a ferro e fogo pelo senhor presidente da instituição e pela maioria de seus outros membros de relevância política.

A coisa funciona muito bem, e não esperem ouvir o contrário de mim: vocês não me ouvirão bradar histericamente contra os aumentos sucessivos da taxa Selic, ao menos não hoje. O que me incomoda neste aspecto, contudo, é o furor messiânico com que alguns encaram o pacote de medidas, e a cara de "resposta definitiva" que alguns lhe andam atribuindo.

Nunca é bem por aí quando se trata de política monetária. Não há "solução máxima"; o que há é um determinado conjunto de medidas que funciona eficazmente quando se busca um objetivo específico, dentro de uma conjuntura determinada. Em se mudando a finalidade, ou o ambiente, aquilo que era perfeitamente adequado ontem pode se tornar, hoje ou amanhã, uma gorda melancia pendurada no pescoço dos policymakers.

Fica a incapacidade de dosar entre o oito e o oitenta: pulamos de soluções heterodoxas excêntricas direto para a sacralização da experiência internacional. Por enquanto, tem funcionado, mas... até quando? Não acredito que a economia brasileira tenha fôlego para maiores apertos, e não devemos esquecer que muito do crescimento que apresentou neste ano deslizou na crista da onda do cenário internacional. Que fique claro, estabilidade de preços é fundamental e, até o presente momento, é um objetivo que tem sido perseguido de forma adequada; só não se deve esquecer que também há outras metas a ser atingidas, e que não necessariamente a forma de chegar até elas será a mesma para todo o sempre, amém.

A lição é simples e óbvia, mas muitos brasileiros -- que talvez, de fato, tenham herdado algo do sebastianismo de seus colonizadores portugueses -- a esquecem, no afã de sua busca pelo super-herói salvador. A cultura da fórmula mágica ainda se encontra arraigada em alguns importantes setores intelectuais brasileiros, e não adianta dizer que não dá pra descansar hoje porque descobrimos ontem algo que funcionava; eles estão cegos por uma esperança ingênua, e ponto final.