segunda-feira, dezembro 27, 2004

MST para Gregos e Troianos.

Acredito que essas pessoas existam e que seus ideias sejam sinceros. No entanto, não podemos ignorar que o MST ( talvez, infelismente) tenha se tornado uma máquina da bandelheira, do "espertismo" brasileiro. Não podemos ignorar que pessoas se utilizam desse idealismo para fins que vão de encontro ao crescimento do país, é preciso muita cautela na hora de se examinar o MST. Destruir propriedades, montar barracos "só para fazer número" também são alguns dos feitos assinados sob o nome de MST, famílias que já foram comtempladas... não podemos fechar os olhos para o que a própria mídia já viu e alertou. Não sou contra ajudar pessoas necessitadas, muito pelo contrário. O grande problema é que se não pararmos com os abusos ( que vêm de todos os lados, cidadãos, governo, organizações) continuaremos em círculos, trabalhando em vão.

Resgate da dignidade brasileira
Por Emir Sader, 19 de dezembro, 2004 Fonte: Jornal do Brasil

Foto: Douglas MansurEla era uma menina bóia-fria, que trabalhava com o pai na lavoura, em trabalhos pesados para qualquer ser humano, ainda mais para ela, com seus 10 anos. Um dia se cansou, resolveu procurar outros destinos. Entrou para um convento, acreditando que poderia fugir daqueles tormentos cotidianos.
Uma manhã um padre convidou-a a acompanhá-lo, porque ele ia rezar uma missa em um lugar muito especial. Ela se vestiu, se arrumou e seguiu o padre. Era um acampamento dos trabalhadores sem-terra. A menina se encantou com aquela gente, com aquela vida, com suas escolas, seu trabalho, sua luta. Nem acompanhou o padre de volta ao convento. Ficou ali mesmo.
Ficou e tornou-se uma sem-terra. Ou melhor, uma participante da luta dos trabalhadores sem-terra pela terra para todos, pela escola, pelo resgate da sua identidade, da sua cultura, da sua dignidade. Ela ficou, passou a estudar, a trabalhar e participar da luta deles.
Depois de seguir os estudos básicos, ela prestou vestibular e passou a fazer o curso de direito. Casou-se com um trabalhador sem terra, os dois têm uma linda filhinha. Um dia eu a encontrei em um aeroporto internacional do Brasil, retornando da Europa, onde tinha ido, muito orgulhosa, representar o MST.
É um dos tantos casos de resgate da dignidade de brasileiros feita pela luta dos trabalhadores sem-terra. E, no entanto, eles costumam ser tratados pela mídia como se fossem portadores de violência e não vítimas, portadores do caos e não da esperança, de arbitrariedade e não de escolaridade. São criminalizados, quando deveriam ser reconhecidos, exaltados e receber a gratidão da sociedade e do Estado brasileiros, por terem resgatado da miséria, do abandono, da ignorância a centena de milhares de pessoas.
Pessoas que morreriam anonimamente, no abandono, sem terra, sem dignidade, sem esperança, encontram no movimento o espaço para se transformarem em cidadãos — uma condição que lhes foi negada durante séculos pelo Estado e pelas elites dominantes. São pessoas como aquela menina, como milhões que ainda sobrevivem na penúria, submetidos à violência e à arbitrariedade do poder dos grandes proprietários de terras e, mais recentemente, das grandes empresas exportadoras.
Muitos são pessoas que fugiriam desse inferno para vir sobreviver pessimamente na periferia das grandes metrópoles brasileiras, abandonadas, marginalizadas, discriminadas. Mas que encontram nos acampamentos um lugar para trabalhar, para estudar, para viver dignamente.
Pode-se dizer que esse movimento contribui para a humanização dos brasileiros pobres do campo como nenhuma outra instituição, estatal ou não, já fez. Deve ter o reconhecimento de ter trazido o surdo conflito social para a superfície, de forma organizada, consciente. De ter trazido para a cidadania a milhões de brasileiros, de crianças, de mulheres, de idosos, que começaram a poder ler, a poder entender as raízes das injustiças que sofreram dezenas de milhões de brasileiros desde que fomos invadidos pelos colonizadores, há mais de cinco séculos.
Assentamento do MST em Jundiaí (ES)O MST alfabetizou mais gente no campo do que todos os programas oficiais de alfabetização. Seu sistema educacional inclui 1900 escolas (isso mesmo: 1900 escolas), em que estudam 160 mil crianças e adolescentes e trabalham quatro mil professores. Dois mil alfabetizadores trabalham com jovens e adultos. Há 10 cursos de formação de professores, entre tantos outros.
Um milhão de pessoas vivem, trabalham e estudam nos acampamentos rurais. Produzem sem agrotóxicos, preservam as sementes naturais, organizam cooperativas, comercializam seus produtos, apóiam os que ainda lutam pela terra.
Esse trabalho de resgate tem que ser reconhecido e apoiado, ao invés de desqualificado, tem que ser divulgado ao invés de difamado, tem que ser estendido ao invés de reprimido. Visitar os acampamentos dos sem-terra é uma das experiências mais extraordinárias que podemos ter hoje no Brasil, recomendado mesmo — e até especialmente — para os que têm preconceitos contra o MST.
O MST completou 20 anos. Sua história tem que ser conhecida de todos, tem que encontrar na mídia os espaços que permitam que os brasileiros conheçam como os trabalhadores do campo, suas famílias, seus filhos, vivem, se educam, trabalham e afirmam sua identidade. Para que muitas e muitos — como aquela menina bóia fria — possam escolher o seu destino, viver com dignidade e encontrar o caminho da sua emancipação.

domingo, dezembro 26, 2004

Se abaixamos a cabeça...

Galerinha, recebi este endereço de um grande amigo meu. Na época eram as eleições do Império. Esse site me pareceu interessante pelo fato de alguns cidadões americanos ( apesar de estarem insatisfeitos com o resultado final das eleições) se reportam ao mundo como se reportam... confiram: http://bem.notlong.com

sábado, dezembro 25, 2004

Impostos

Talvez fosse interessante imitar (só mais uma vez) nosso vizinho imperador, que coloca o preço e, o famoso e pouco querido, "plus taxes" .
De uma forma ou de outra aos poucos, nós brasileiros estamos aprendendo, já podemos nos considerar mais exigentes como consumidores ( embora poucos sejam os que pedem nota fiscal, já somos mais exigentes na hora de comprar e de fazer valer nosso (i)real ) falta agora começarmos a sermos mais exigentes como cidadãos com o simples ato de fazer valer nossos direitos (que nem sempre conhecemos).
É um processo de conscientização. Acredito estarmos nos conscientizando, muuuito lentamente, mas estamos indo.
Segue uma reportagem da Folha que começa contando o que todo economista sempre soube...
ESTÁ EM ANDAMENTO UMA REBELIÃO
(Gilberto Dimenstein, Folha SP)

Começou a percorrer o país, na semana passada, uma notável lição de cidadania. É uma exposição, em praça pública, de uma série de produtos, na qual uma só idéia está à venda: a de que o consumidor não sabe quanto deixa para o governo ao comprar qualquer coisa - de um automóvel a um chiclete.
Ao analisar as placas com porcentagens grudadas em cada produto, o vitante da exposição saberá, por exemplo, que, ao adquirir um carro de mil cilindradas, terá deixado 44% para o poder público. Cada vez que enche o tanque com gasolina, são mais 53% em impostos.
Os organizadores dessa experiência, exibida no centro de São Paulo, apostam no seguinte: quando o consumidor, de fato, souber quanto o governo lhe tira diariamente, haverá mais pressão para que melhore o desempenho da administração pública.
A semana passada deu sinais de que há algo novo nascendo no país: uma conformidade crescente, que envolve líderes empresariais, dirigentes de trabalhadores e classe média, todos contra a carga de impostos.
Sindicalistas foram a Brasília para pedir ao governo que baixasse impostos e, assim, ajudasse os empresários a criar mais empregos - assim seria possível, segundo eles, viabilizar o pedido de redução da jornada de trabalho sem diminuição dos rendimentos dos empregados.
Embute-se aí a percepção dos trabalhadores de que mais impostos significam menos empregos, o que vai muito além de reivindicações corporativas.
Na sexta-feira, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, anunciou um pacote que, supostamente, diminuirá em R$ 2,5 bilhões a carga tributária. Talvez sirva para aliviar o crescente desconforto da opinião pública em relação à voracidade fiscal da gestão Lula.
Prepare-se: é apenas o começo!
A experiência do Feirão dos Impostos é apenas um ínfimo detalhe pedagógico no panorama de uma rebelião que, silenciosamente, sem manifesto nem porta-voz, vem sendo feita pelas centenas de milhares de pessoas que optam pela informalidade, ou seja, pela clandestinidade.
Uma coisa é os jornais informarem que, em 1988, a carga tributária representava 22% do PIB e agora representa 40% - o que é algo incompreensível para o cidadão comum. Outra é saber que isso custa, por ano, cerca de R$ 212 bilhões. E mais: saber que cada brasileiro trabalha quatro meses e 18 dias só para manter os governos. Mais ainda: saber que a carga de impostos dificulta a geração de empregos e, conseqüentemente, inibe os aumentos salariais.
Não está faltando muito para o indivíduo, ao comprar uma barra de chocolate, saber quanto está deixando para o poder público. E, ao sair do supermercado, irritar-se ainda mais ao ver o buraco da rua ou a criança abandonada pedindo dinheiro no semáforo.
Se cada cidadão soubesse que, por ano, dá quatro meses e 18 dias em impostos e ainda recebe tão pouco de volta - e não se esquecesse dessa conta, seria natural que a pressão pela eficiência pública fosse ainda maior. E a capacidade dos governantes de tentar tirar mais dinheiro, menor.
Para desespero dos poderosos, o que está em jogo é simples. É justamente o que se vê na experiência da exposição, em praça pública, de produtos, digamos, pedagógicos. À medida que a democracia se aprofunda, o cidadão vai conhecendo mais seus direitos.
PS - Uma medida simples e barata ampliaria enormemente o efeito pedagógico daquela exposição. Cada produto vendido deveria levar o valor dos impostos na embalagem e na nota fiscal. Seria uma implacável lição diária, a começar das crianças que comprassem um sorvete. Se dependesse de mim, eu daria a essa informação a mesma visibilidade das chamadas para os produtos perigosos para a saúde como as advertências sobre os perigos do tabagismo nos maços do cigarro.
Desculpe-me pela obviedade, mas o cidadão tem o direito de saber, em detalhes, quanto de seu dinheiro (e de que maneira) é usado. É a forma de os governantes não fazerem à saúde do contribuinte o mal que o fumo faz aos pulmões dos indivíduos.

sexta-feira, dezembro 03, 2004

O Rio de Janeiro (é e) continua (uma merda) lindo

Este país consegue ser uma merda no detalhe. Não, não é só no agregado, não. Tudo aqui é atraso e subdesenvolvimento, cada vírgula é mal-colocada de forma a atrapalhar ainda mais a sintaxe confusa desta frase que é o Brasil.

O Rio de Janeiro é uma enorme lata de lixo, um poço de ineficiência disfarçado de arbusto, para que não o enxerguemos como é: uma cidade suja, perigosa, mal-cuidada, uma infra-estrutura de fazer corar qualquer pessoa que tenha critério. Disse uma vez em meu outro blog e repito aqui, com muito mais raiva: eu não recomendaria esta cidade a NENHUM colega estrangeiro meu, sequer a um de outro estado que não a conheça. Ninguém merece gastar uma fortuna para ser recebido por aquele fedor horrível nos entornos do Galeão, ser enrolado por taxistas, aturar pivetes-malabaristas-ladrões a cada sinal de trânsito, correr risco ALTO de ser assaltado à mão armada à noite, ou furtado, a absolutamente qualquer hora do dia. Ninguém merece ir para longe de casa para ficar preso no trânsito em São Conrado enquanto um corriqueiro tiroteio corre solto na Rocinha.

E como se espera que esse país vá para frente com seus agentes econômicos sendo acuados dessa forma? Aqui nessa cidadezinha fedida de merda, perde-se diariamente duas, três horas por dia, no mínimo, no trânsito: basta não morar (e trabalhar) perto do metrô (que, por sua vez, é uma rede ridiculamente pequena), que pronto, lá se vai o seu dia inteiro na porra do ônibus ou na merda do carro, e para que uma pessoa iria querer ter vida além de ir para a faculdade, para o trabalho, comer (se sobrar tempo) e dormir (pouco)? Por que, por exemplo, alguém poderia querer estudar em casa, ao invés de ir à faculdade sem fazer a menor idéia do que se passa porque não se tem tempo de fixar o aprendizado quando se sai dela, ou, talvez, porque não se adaptar e passar a estudar, namorar, comer, dormir na porra do maldito ônibus? É isso, as autoridades brasileiras (especificamente cariocas) querem estimular a nossa resourcefullness, tornando-nos mais competitivos perante o mercado de trabalho mundial.

Cheguei em casa (depois de 4 horas no trânsito) babando de ódio e ouvi um "Calma, você já está toda empipocada (eu fico cheia de placas vermelhas pelo corpo quando estou nervosa, é uma espécie de reação alérgica bizarra a estresse que tenho) vai acabar quebrando a casa inteira se continuar com raiva desse jeito..." Que quebrar a casa o quê, eu queria era quebrar a cara dos últimos 10 filhos da puta que governaram esta maldita cidade.

Puxa, como o Brizolla tem sorte em já ter morrido.