domingo, janeiro 30, 2005

Trova do Exílio

"Minha terra tem palmeiras...
Corruptos e salafrários
Que carregam nas carteiras
todo o esforço dos otários"


Colocada online apenas após o "OK" pessoal de Aninha ontem à noite (independentemente de seu nível etílico no momento).

Isto foi escrito lá nos idos do 2o grau, após uma leitura na já mais do que batida Canção do Exílio. Por isso essa espécie de indignação quase infantil nos versos. Não a considero muito minha "primeira trova" porque não foi algo que veio realmente de algum tipo de sensação ou opinião minha; eu era apenas um moleque querendo brincar com as palavras e com o texto que a professora havia acabado de passar.

Pronto Aninha, já fiz minha colaboração anual ao "Conjecturas"... agora só ano que vem! ;)

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Feito pela boca

Aqui, a íntegra do discurso do presidente Lula na conferência Chamada Global para a Ação Contra a Pobreza, no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, como publicada no site Primeira Leitura. Divirtam-se (é de fato très amusant em alguns momentos ;-).
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Meus queridos companheiras e companheiros,
Delegados do Fórum Social Mundial,
Meu caro Cândido Grzybowski, coordenador geral do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas,
Meu caro John Samuel, da Chamada Global para a Ação contra a Pobreza,
Senhor Guy Ryder, secretário-geral da Confederação Internacional das Organizações Sindicais Livres,
Senhora Varruca Hara, do Conselho de Igrejas Africanas,
Senhora Coumba Touré, representante da Rede Africana Educação para Todos,
Meu querido companheiro Tarso Genro, ministro da Educação,
Meu querido companheiro Gilberto Gil, ministro da Cultura,
Minha querida companheira Dilma Rousseff, ministra de Minas e Energia,
Meu querido companheiro Marinho, presidente da Central Única dos Trabalhadores,
Minha querida companheira Marina Silva, ministra do Meio Ambiente,
Meu querido companheiro Miguel Rossetto, ministro do Desenvolvimento Agrário,
Meu querido companheiro Olívio Dutra, ministro das Cidades,
Meu querido companheiro Luiz Dulci, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República,
Meu querido companheiro Nilmário Miranda, secretário especial dos Direitos Humanos,
Minha querida companheira Nilcéa Freire, secretária especial de Políticas para Mulheres,
Minha querida Matilde Ribeiro, secretária especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial,
Meus companheiros deputados federais,
Deputados estaduais,
Dirigentes partidários,
Militantes políticos contra, a favor e muito pelo contrário,
Meus companheiros e minhas companheiras,

Eu, se não estivesse aqui, estaria tão ou mais feliz do que assistindo essa demonstração cívica de exercício da democracia e de compromisso das organizações sociais com um dos problemas mais sérios que a humanidade já passou.

Perguntar a mim se um outro mundo é possível seria desnecessário; seria apenas necessário aliar o que aconteceu com o Fórum Social Mundial nesta sua terceira versão, e constatar que ele está mais vigoroso, mais participativo e, pela primeira vez, assumindo a responsabilidade de transformar um problema crônico da humanidade como um tema prioritário a ser defendido pelas entidades que participam das ações sociais no mundo inteiro.

Quem duvida que um outro mundo é possível, leve uma fotografia deste plenário para casa e olhe todo dia, e perceba a evolução que nós tivemos em tão pouco tempo de realização do Fórum Social Mundial. Mas não é apenas a questão do Fórum, era importante que cada companheiro, independentemente do país que seja, independentemente do partido ou do time de futebol que participe, independentemente da seita ideológica, é importante lembrar a evolução que houve na América Latina nesses últimos dois anos.

É importante lembrar que há pouco mais de dois anos, um país importante como a Argentina sequer tinha visão de eleger um presidente da República porque se imaginava que o Menem voltaria a ser presidente. O que aconteceu na Argentina, é que o companheiro Kirchner assumiu a Presidência da Argentina e está mudando não apenas a relação do governo com o seu povo, mas está contribuindo para mudar a relação entre os Estados da América Latina.

É importante lembrar que no nosso querido Uruguai acaba de ter uma eleição e, depois de três derrotas, o companheiro Tabaré, finalmente é eleito presidente da República. É importante lembrar que o companheiro Nicanor Duarte conseguiu derrotar a estrutura oligárquica do Paraguai. É preciso lembrar o que aconteceu na Venezuela mais recentemente. É preciso lembrar o que aconteceu no Panamá mais recentemente, e a gente vai perceber que a evolução política na América do Sul está permitindo não apenas sonhar que um outro mundo é possível, mas está permitindo que a gente construa, dia-a-dia, a possibilidade de termos esse mundo.

Quem é que acreditava, aqui, no nosso continente, que em apenas dois anos, países que não conversavam, e posso falar do Brasil, que viveu o tempo inteiro olhando para a Europa e para os Estados Unidos, de costas para a América do Sul e de costas, na verdade, para a África. Graças a uma política externa, arrojada e prepositiva, há menos de um mês nós assinamos, na cidade de Cuzco, no Peru, a criação da Comunidade Sul-Americana de Nações. É pouco, é pouco, certamente, mas é importante saber que todos os países da América do Sul, há pouco tempo tinha uma subordinação ao chamado mundo desenvolvido.

E nós resolvemos estabelecer entre nós uma relação de confiança, política de complementaridade, definindo a tese de que não basta a integração do discurso, discurso que é feito há muitos séculos. A integração passa por políticas concretas, passa por obras de infra-estrutura, passa por obras de energia elétrica, de comunicação, de ferrovia, de rodovia, e é por isso que mesmo o Brasil sendo um país pobre, através do BNDES estamos participando ativamente para ajudar nas parcerias e no desenvolvimento dos países da América do Sul, sem o qual não haverá integração, e sim apenas discurso.

É por isso que estamos fazendo parceria como nunca foi feito com a Argentina, através de uma ação positiva do governo brasileiro e do presidente Kirchner. Se depender de alguns setores da tecnocracia brasileira, nós não teremos relação com a Argentina. Se depender de uma parte da tecnocracia argentina, não teremos relação com o Brasil. Se depender de um aparte dos empresários dos dois lados, nós não teremos... Agora, a verdade é que a América do Sul e o Mercosul não serão os mesmos se Brasil e Argentina não se entenderem e não fizerem solidamente uma política de ação conjunta para passar confiança aos outros países.

Depois de criarmos a base para a comunidade Sul-Americana de Nações, nós resolvemos nos voltar para a África, para a tão querida África, com quem o Brasil tem uma dívida histórica e uma parte da elite brasileira tinha vergonha de olhar para o continente africano, olhava por cima, apenas para enxergar a Europa.

Em dois anos, eu visitei mais países da África do que todos os presidentes na história do meu país. E fiz isso porque o Brasil tem responsabilidade com a África. Nós somos a segunda nação negra do mundo, depois da Nigéria. Uma parte do que o Brasil é se deve à África. E, por isso, o Brasil tem que restabelecer a sua política com a África. Já visitei dez países, vou visitar mais três este ano. E, se Deus quiser, mais três no ano que vem, até que a gente estabeleça uma relação para saber como países como o Brasil podem ajudar os países africanos, como ajudamos Moçambique e Gabão, anistiando a dívida que eles tinham com o Brasil; como fizemos com a Bolívia e como vamos fazer com o Suriname.

Eu poderia ter feito a opção de ficar dentro do meu país apenas falando e discursando, que é mais fácil do que sair para conversar com uma pessoa que você nem entende a língua e ter que convencê-la a ser parceira, para que a gente possa encontrar uma saída conjunta, até porque eu sou daqueles que não acredita que haja saída, individualmente, para nenhum país do mundo. Ou nós nos juntamos ou não teremos saída. E juntar para que a gente aproveite a boa experiência de cada um.

Depois disso, visitamos sete países árabes. O último governante brasileiro a visitar o Líbano tinha sido D. Pedro, em 1847, por aí. Nós fizemos uma visita por sete países e vamos ter agora, em maio, um encontro histórico entre todos os representantes dos países árabes e todos os governantes da América do Sul, para que a gente estabeleça uma relação mais forte, para que a América do Sul enxergue o Oriente Médio, e para que o Oriente Médio enxergue a América do Sul. E que a gente passe a fazer transações culturais, comerciais, científicas e tecnológicas, afinal de contas, não podem ser apenas a Europa e os Estados Unidos a receberem os milhões de árabes que viajam o mundo e fazem negócios. Nós temos que mostrar que na América do Sul nós não somos seres inferiores, nós temos condições de competir em igualdade de condições.

Depois, fomos à Índia e à China. E por que nós fomos? Porque achamos que esses países grandes podem se transformar em parceiros estratégicos de países como o Brasil, para que a gente possa mudar a correlação de força dos fóruns multilaterais e para que possamos ter uma predominância da política da maioria dos países e não apenas da política dos países ricos.

Depois disso, meus companheiros e companheiras, nós criamos o G-3: Índia, Brasil e África do Sul. Depois, criamos o G-20. Eu me lembro, meu caro presidente, que quando criamos o G-20 não faltaram pessimistas, no Brasil e lá fora, para dizer que o G-20 era um fracasso total, que nós não tínhamos força para fazer negociação. E três meses depois, em Genebra, o G-20 demonstrou não apenas que tem força, demonstrou que é possível, numa política de muita conversação, a gente fazer com que os países ricos abram mão dos subsídios agrícolas, para permitir que os países pobres possam competir comercialmente em igualdade de condições.

Eu me lembro de quando o Brasil entrou na OMC, contra os subsídios do algodão e contra o subsídio do açúcar. Na Europa e nos Estados Unidos não faltaram pessimistas que diziam: isso não vale nada, o Brasil não vai ganhar, o Brasil vai perder porque o Brasil é fraco. E o que aconteceu é que nós ganhamos e os subsídios do algodão não favorecem só o Brasil, favorecem muito mais os países africanos que têm no algodão a base fundamental da sua economia. Os subsídios do açúcar não favorecem apenas o Brasil, mais outros países do mundo, produtores de açúcar. E, agora, estamos na luta pela unidade de um acordo comercial entre União Européia e o Mercosul. Alguns podem dizer: mas o presidente Chirac é contra, mas o primeiro ministro Schroeder é contra, mas Tony Blair é contra, mas Bush é contra.

Ora, se eles fossem a favor as coisas já estavam resolvidas, é pelo fato deles serem contra que nós temos que fazer política, é pelo fato deles serem contra que nós temos que convencê-los que conversar... Vou a Davos hoje e vou lá dizer o que estou dizendo aqui: fui convidado para ir para o G-8 e estarei lá para dizer o que eu estou dizendo aqui, porque seria muito mais fácil reunir meia dúzia de amigos, comprar meia dúzia de refrigerantes e ficar em torno de uma mesa apenas falando o que os meus amigos gostariam de ouvir. Não, eu nasci fazendo enfrentamento, aliás, eu sou de Pernambuco, de um Estado muito pobre, e o pernambucano que não morre de fome antes de cinco anos de idade, já é um batalhador incansável.

Eu estou aqui porque acredito piamente que vocês estão dando o passo mais importante e o passo histórico mais sério do Fórum Social Mundial. Vocês estão deixando de ser um conjunto de pessoas, cada um discutindo o que quer para determinar o tema e transformar a questão da fome de um problema social num problema político.

E aí, sim, quando a fome for um problema político a gente vai perceber que outros irão participar. E tem gente que nunca passou fome. Acha que isso não vale nada. Tem gente que toma café de manhã, almoça e janta e ainda toma um chá antes da meia noite para dormir, e acha que isso não vale nada. Isso é uma campanha de proselitismo, porque nunca viu uma criança morrer de fome no colo da mãe como eu vi na cidade Souza, a mãe pedindo esmola para enterrar o seu filho.

É proselitismo para quem come as calorias e as proteínas necessárias, mas para a maioria do povo brasileiro, para uma grande parte do povo da África, da América Latina e de países asiáticos, dar três pratos de comida por dia é uma verdadeira revolução que nós estamos fazendo neste planeta Terra. É, possivelmente, mais do que isso. Eu poderia fazer como no começo da minha entrada na política. Quando eu entrei na política: não pode entrar no sindicato porque só tem pelego, eu entrei, e em três anos mudamos a história do movimento sindical brasileiro. Quando eu fui criar um partido político: não pode, porque não existe cultura de trabalhador criar partido político. Em 20 anos criamos o partido político mais importante da América Latina.

E os visitantes, os de fora, não se assustem, porque estes que não querem ouvir são os filhos do PT que se rebelaram mas, um dia, é próprio da juventude, eles amadurecerão e à casa retornarão, e nós estaremos de braços abertos para recebê-los, tratando-os com o mesmo carinho com que sempre o tratamos.

Meus companheiros e companheiras do Fórum Social Mundial,
É importante que vocês tenham em conta que em setembro vai ter reunião na Assembléia Geral das Nações Unidas, é importante que o Fórum transfira a sua energia para fazer com que nós, delegados das Nações Unidas, tenhamos coragem de tomar as medidas para cumprir as Metas do Milênio. É preciso que vocês participem para que a gente possa democratizar não apenas a ONU, mas todos os fóruns multilaterais existentes no mundo, porque a maioria dos países pobres nem participam porque não pagam, não têm direito a voto. É preciso que a gente construa uma outra força no mundo para que a gente possa mudar a geografia política, comercial e cultural.

Meu caro Presidente, quando comecei essa empreitada de visitar os países pobres e comecei a falar que era possível criar uma nova geografia comercial, alguns diziam para mim: “Presidente Lula, não faça isso, porque você está brigando com os Estados Unidos, não faça isso porque você está brigando com a União Européia.” Não, eu não estou brigando. Eu aprendi, no movimento sindical que se eu sou mais pobre, se tenho menos dinheiro e, portanto, tenho menos força, eu tenho que ter mais gente do meu lado, eu preciso juntar os iguais para que a gente possa fazer pressão e mudar a geografia existente no mundo. E eu penso que nós estamos avançando. Estamos avançando, eu diria, de forma excepcional.

Eu, que vivo o dia-a-dia, sei o quanto os Estados Unidos implicaram com o nosso companheiro Chávez, eu me lembro quando eles implicaram. Fomos nós, em Quito, em janeiro de 2003, que anunciamos: o problema da Venezuela não é um problema dos Estados Unidos, é um problema da América do Sul. E nós vamos cuidar de encontrar uma saída. Propusemos o grupo de amigos e, graças a Deus, está aí o referendo que consolidou a liderança de um dirigente.

Agora mesmo teve um problema com a Colômbia e a Venezuela. Nós não ficamos em casa não, fomos à Colômbia. Foi um companheiro meu à Venezuela para que a gente discuta e estabeleça harmonia entre as pessoas, afinal de contas, nós somos países pobres, não temos o direito de gastar a nossa energia brigando com coisas secundárias, mas produzindo riqueza para que esse povo possa ter acesso a muitos e muitos bens. E nós estamos conseguindo isso, para desgraça de alguns, para infelicidade, porque eu perdi três eleições para ganhar uma. Ganhei uma eleição. Mas o que tem de “urucubaca” torcendo para a gente não dar certo, eu tenho que levantar de “figa” todo dia para dizer: pelo amor de Deus.

Eu queria dizer algumas coisas sobre o meu querido Brasil. Ontem, eu e o ministro Tarso Genro tivemos a alegria e o prazer de ir a São Paulo entregar as primeiras bolsas de estudo do ProUni. O ProUni é uma parceria feita entre o Ministério da Educação e o governo, com as universidades privadas, as filantrópicas que, com uma isenção, nós criamos 112 mil vagas e, ontem, 107 mil novos alunos ganharam bolsa total ou parcial, para fazerem um curso universitário que eles não poderiam fazer. Quarenta por cento dessas bolsas, gente, estão reservadas para negros e indígenas. Essa bolsa é para gente pobre, da periferia e das escolas públicas deste país.

Mas aí tem um problema, alguns companheiros que nunca tiveram problema na vida e já têm sua vaga garantida nas boas universidades públicas federais são contra essas bolsas porque, na verdade, eles são contra pobre estudar, eles são contra pobre ter acesso à universidade, porque já garantiram a vaga deles.

Está aqui a ministra Marina, se vocês não sabem, é aquela de vestido preto ali, parece até mais uma companheira da Índia ou da África. Esta companheira é ministra do Meio Ambiente. Nós, em dois anos de governo, já demarcamos 47 terras indígenas, mais do que o outro governo. Nós já transformamos, praticamente, 5 milhões de hectares em reservas florestais. Em dois anos, 500% a mais do que em dois anos do outro governo. E isso incomoda.

O programa Bolsa Família, que é o maior programa de transferência de renda que já existiu, já atendeu, em dezembro, a 6 milhões e meio de famílias. E vai atender a 8 milhões e 700 mil em dezembro, a 11 milhões de pessoas em 2007, para a felicidade de quem recebe e para a desgraça de quem não quer que o povo coma, para a desgraça de quem não quer que as políticas sociais cheguem até o nosso querido povo.

Aqui, vale menos para os brasileiros, vale mais para os estrangeiros. Quando nós pegamos este país, no dia 1º de janeiro de 2003, nós tínhamos um déficit de balança de conta corrente de 32 bilhões. Hoje, temos superávit de 10 bilhões. Nós pegamos este país com o risco-Brasil a 2.400 pontos, hoje está a 400 pontos. Nós pegamos este país sem crédito para as nossas importações, e hoje o Brasil bateu recorde de exportação: 96 bilhões de reais; e recorde de saldo comercial: 36 bilhões de reais.

Mas não é só isso, está aqui o Marinho, presidente da CUT, está o Grana, presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, que desde 1982 reclamava comigo: não tem emprego, a indústria automobilística só manda embora. E, a cada dia que passava, a indústria ficava vazia. Este ano, o Brasil bateu recorde na produção de automóveis e os empregos na indústria automobilística cresceram 27 mil e, só no ABC, para os metalúrgicos que me criaram na política, 11 mil novos empregos com carteira profissional assinada, mais uma indústria automobilística.

Vocês leram os jornais hoje, o desemprego caiu para apenas um dígito. No ano passado foram quase 2 milhões de empregos com Carteira Profissional assinada. E este ano vai crescer mais, porque nós preparamos as bases para o Brasil crescer mais, nós vamos fazer as ferrovias que faltam, as hidrovias que faltam, a energia que falta, as estradas que faltam e, certamente, nós vamos gerar mais empregos, vamos fortalecer mais a massa salarial e distribuir a renda. E os meus filhos, que saíram de casa cedo, haverão de falar: “Puxa vida, eu estou pensando em voltar para aquela casa, porque a coisa está voltando a funcionar perfeitamente bem”.

Companheiros, eu não vou dar mais números sobre a economia brasileira porque eu acho que vocês vão receber material farto nesses dias, eu só queria terminar dizendo a vocês o seguinte: eu sou um homem perseverante, sou um homem determinado a fazer as coisas como podem ser feitas. Tem gente que acha que as coisas podem acontecer antes do tempo, eu sou daqueles que acreditam que tudo tem que ter uma preparação, eu sou daqueles que preferem dar um passo menor a cada dia e não parar nunca a minha caminhada, do que dar um passo grande, ter uma distensão e ficar três meses na geladeira, sem poder caminhar mais.

E quero dizer aos companheiros do Fórum Social Mundial: não sei se no ano que vem ele vai ser feito Brasil. Queria dizer para vocês que eu não sou gaúcho, mas se pudesse continuar sendo no Rio Grande do Sul, seria uma alegria, não apenas para o gaúcho, mas para os brasileiros. Mas respeito e sei da importância que o Fórum tem para outros países. Se vocês decidirem, certamente não terão tantos brasileiros como aqui, certamente, não sei se eu poderei ir, mas podem ficar certos que, se me convidarem, não tenham dúvida de que eu irei aos Fóruns Sociais, porque eu estou Presidente da República, mas, de origem, eu sou do movimento social, de origem eu sou um militante político. Quando terminar o meu mandato eu não vou para a França, nem para os Estados Unidos fazer pós-graduação, quando eu terminar o meu mandato eu vou voltar para São Bernardo do Campo para conviver com os meus companheiros metalúrgicos, onde eu nasci e, certamente, é para onde eu vou voltar.

E este barulho que vocês estão ouvindo agora eu ouço desde 1975, os meus ouvidos já estão calejados, preparados. De vez em quando eu vejo isto como harmonia gostosa, como parte da democracia. É um gesto democrático feito pela boca daqueles que não têm paciência de ouvir as verdades.

Muito obrigado, companheiros, e boa sorte a todos os delegados.

domingo, janeiro 16, 2005

Maremoto na Ásia moveu continente europeu


E por falar em Tsunamis...

A superfície do continente europeu levantou cerca de um centímetro no momento do maremoto que sacudiu o Oceano Índico em 26 de dezembro, afirmou nesta sexta-feira (14) o cientista alemão Rudolf Widmer-Schnidrig, do Observatório Geológico de Schiltach, no sudoeste da Alemanha. Além disso, o cientista explicou que, segundo as medições do observatório, a placa continental européia se deslocou dois centímetros para o norte, fenômeno que durou alguns minutos e não pôde ser percebido por causa de sua lentidão. "Foi um movimento muito grande para um maremoto tão distante", assinalou o cientista, acrescentando que a Terra continua registrando movimentos de sístole e diástole em conseqüência do maremoto.

sexta-feira, janeiro 07, 2005

Buraco na camada de ozônio causa tsunami

Claro que eu sei que minha afirmação é ridícula. No entanto, não seria de se espantar se o ilustríssimo presidente Lula levasse a seríssimo o título deste post. Em mais um de seus discursos improvisados aparvalhados, o ex-metalúrgico e chefe de estado (ainda mais presente em seu comportamento público a primeira característica do que a segunda) apontou o tsunami que arrasou a costa asiática como "um sinal de que a natureza deve ser tratada com mais carinho". Gaaaaaaaaaa?

Não vou falar do governo Lula, vou falar dele, mesmo, Luís Inácio da Silva, este homem que definitivamente não aprendeu a vestir o uniforme que acompanha seu cargo. Depois de duas décadas de dedicação exclusiva à sua candidatura à presidência, é de me causar profundo espanto que pessoa tão extensivamente preparada para a exposição e o julgamento crítico públicos falte tão repetidamente com normas básicas de conduta, e, sobretudo, com um mínimo de senso de ridículo.

Triste é ter um presidente que é lembrado por suas metáforas descabidas e por seu apreço a uma boa aguardente. Lula exagera na dose, e não falo apenas de cachaça. Esbanja populismo ralo com seus improvisos explicativos, que visam esclarecer ao leigo -- que, ao que tudo indica, o chefe de Estado julga ser portador de deficiência mental, ou talvez só dê essa impressão devido a carência grave de nutrientes que ele próprio possa ter sofrido na infância (que na vida adulta é que não foi, como bem sabemos) -- temas como a condução de política econômica: "O que a gente não pode deixar é a inflação subir. É como quando um sujeito se descuida, exagera no churrasco e engorda um quilo no fim-de-semana. Para perder esse quilo, demora meses..." Obrigada, senhor presidente, pela contribuição com o esclarecimento do povo brasileiro, que precisa mesmo de mais parábolas para garantir o seu nível de deseducação e despreparo.

Ridículo é, depois daquela palhaçada que foi feita com o jornalista Larry Rohter, praticamente expulso do país por sugerir no jornal americano The New York Times que "alguns de seus conterrâneos começaram a se perguntar se a predileção do presidente por bebidas fortes está afetando sua atuação no governo", o presidente continuar a ser filmado e fotografado, em grande parte de suas aparições públicas, com um copo de bebida alcóolica na mão. O.K., o que mais falta para ele perceber que este comportamento não é, nem de longe, adequado a um líder de Estado?

Vergonha na cara, só pode ser, porque dinheiro não falta, nem conselho, nem crítica. Fazer o quê? Infelizmente, senso de ridículo não se adquire -- nem nos melhores livros de etiqueta da Gloria Khalil.